Quem dá aulas sabe que frequentemente uma criança se recusa a participar da atividade e eventualmente até da aula toda.
A partir dos 3 anos, as crianças começam a demonstrar que tem opinião e vontade própria. Portanto a recusa faz parte do seu desenvolvimento.
Por outro lado, a aula de balé é uma atividade dirigida em grupo, ou seja, o andamento da aula depende da realização das atividades propostas pelo professor.
Eu trabalho da seguinte forma:
Primeiro acolho a criança e pergunto porque ela não quer fazer a atividade.
Muitas vezes, neste primeiro momento, se realmente estamos dispostos a ouvir e a validar a fala da criança, entendemos o que está havendo.
Geralmente os motivos são: indisposição orgânica (sono, fome, dor, cansaço), falta de interesse na atividade, frustração com algo que aconteceu na hora (um amigo que não quis dar a mão por exemplo), ou simplesmente não tem motivo, não quer e pronto.
Se ela está cansada ou com sono, sua necessidade deve ser respeitada, portanto pode ser oferecido um tapete ou colchão para ela descansar por alguns minutos (raramente uma criança dorme na aula).
Se ela está sem interesse na atividade precisamos avaliar se a criança não gosta de uma atividade específica ou se ela está desmotivada. Para fazer esta avaliação, basta observá-la por alguns dias e perceber se a queixa de não querer fazer é recorrente. Quando a criança está desmotivada mesmo com o balé é necessário uma conversa com a família para entender se esta desmotivação é apenas na aula ou em outras áreas da vida. Assim podemos ajudar a criança a atravessar alguma dificuldade ou simplesmente entender junto à família que pode ser bom dar um tempo no balé.
Sobre não fazer eventualmente uma proposta específica da aula, eu acho que é preciso respeitar, sobretudo se a criança observa atentamente. A observação é um modo de participação. Aos poucos podemos ir convidando-a gentilmente a participar, sem expectativa de que ela faça 100% das propostas sugeridas.
Frustração com algo que aconteceu na aula é frequente: as crianças pequenas se chateiam com situações que podem parecer pequenas para o universo do adulto, mas podemos e devemos ajudá-la a resolver. Um amigo que não fez algo que a criança queria, um lugar na fila ou na roda, uma peça de roupa incomodando, uma situação antes da aula. Muitas vezes ao conversar com a criança ela consegue lidar com aquela frustração e se anima para realizar a atividade sugerida.
Tem também aquela criança que não quer fazer e ponto.
Birra, indisciplina, bagunça, enfrentamento da autoridade, preguiça.
Podem ser vários os motivos, não temos receita de bolo para lidar com as dificuldades de educar uma pessoinha.
Uma dica que pode ajudar é convidar a criança que está com dificuldade de seguir os comandos a te ajudar: pegar um objeto, ligar o som, marcar o chão, recolher sapatos do chão.
Tornar a criança sua aliada e mostrar pra ela que ela é acolhida e aceita por você.
Pode ajudar, mas não necessariamente.
Precisamos também (e muito) de firmeza para nos fazer entender: a aula de balé é uma atividade dirigida, em que o professor da turma comanda as atividades e as crianças realizam as propostas.
Mas lembre-se: ser respeitado é diferente de ser temido, ser autoridade é diferente de ser autoritário.
Existem momentos muito desafiadores em que a gente tem vontade de sair correndo da sala. E é ali geralmente que temos os maiores aprendizados.
Afinal, não são só as crianças que estão em processo de aprendizagem, todos nós estamos.
E se algum dia você perder a paciência e falar de modo muito duro com seus alunos, peça desculpas. Ensinar que os adultos erram é fundamental e ensinar a pedir desculpas através do exemplo mais ainda.
Boa sorte! E qualquer dúvida comenta aqui embaixo que terei muito prazer em ajudar!
Com afeto e alegria,
Manu Berardo